ars athletica
Sara Mesquita
Parece que o tema COVID-19 não nos larga.
Adorava escrever-vos sobre temas animadores, mas este vírus, além de estar a matar e a afastar pessoas, está também a mexer com o desporto (com todo o tipo de desporto), e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) têm sido notícia por diversas razões.
A FPF abriu as hostilidades com a candidatura da deputada do PS, Cláudia Santos, para substituir José Manuel Meirim na presidência do Conselho de Disciplina da Federação.
Nada contra, mas sendo este o órgão que mais “mexe” com os clubes, os jogadores e os adeptos, a composição do mesmo deve ser tratada com pinças. E por “pinças”, entenda-se independência e imparcialidade absoluta.
Ora, se o histórico de relações da candidata com alguns clubes já deixava algumas reticências, o facto de ser deputada na AR pode colocar um ponto final na confiança dos clubes, jogadores e adeptos neste órgão, podendo inclusive, em algum momento, levantar-se a confusão entre o poder político e o desportivo! Esperemos que a candidata exerça o cargo com a exigência, competência e imparcialidade que o mesmo exige.
A insatisfação do público com a FPF não ficou por aqui!
No passado dia 02 de Maio, a Federação decidiu indicar dois clubes do Campeonato de Portugal para subir à II Liga: o Futebol Clube de Vizela, Futebol, SAD e o Futebol Clube de Arouca, Futebol SDUQ, Lda., tendo fundamentado a sua decisão com base em cinco critérios:
- A autorização concedida à Federação, pelo DL n.º 18-A/2020, de 23 de Abril, para alterar disposições regulamentares para dar resposta aos constrangimentos causados pela pandemia;
- A indicação da UEFA de que as Federações deveriam ter em conta o mérito desportivo, quando não fosse possível terminar a competição em campo;
- A decisão do Conselho de Ministros que só autoriza a realização de jogos da I Liga e a final da Taça de Portugal;
- O contrato assinado com a LPFP que estabelece que ascendem à II Liga dois clubes do Campeonato de Portugal, em função do mérito desportivo; e
- A impossibilidade de utilizar o play-off para indicar à LPFP os dois clubes com acesso à II Liga.
Foram estes os critérios utilizados que levaram ao descontentamento de muitos clubes.
Permitam-me também a mim discordar desta justificação coxa da FPF. Coxa porque se descarta da decisão. Parece os miúdos da escola – “eu não queria, mas eles disseram” – por “eles” entenda-se o Governo, a UEFA e a LPFP.
Ora, a natureza do Campeonato de Portugal não permite apurar o mérito desportivo de clubes que não competem entre si.
Por que é que o Arouca tem mais mérito desportivo que o Olhanense?
Não jogaram entre si, não disputaram as mesmas equipas, não jogaram nas mesmas condições… só porque tem mais pontos?
Por essa lógica, o mesmo Olhanense (57pts em 25 jogos) tem mais mérito desportivo do que o CD Nacional (50pts em 24 jogos) que vai ascender à I Liga.
É esta a lógica?
É impossível, no Campeonato de Portugal, atender ao mérito desportivo sem a realização de um play-off entre os dois primeiros clubes de cada série.
Até admitia a realização do play-off apenas entre os primeiros classificados de cada série.
Mas para um apuramento real do mérito desportivo, e pela verdade e transparência desportiva, teria sempre de haver confronto entre clubes de todas as séries.
Assim, das três, uma: ou sobem os quatro primeiros; ou solicita-se ao Governo que autorize a realização de um play-off apenas entre os quatro primeiros (solução mais difícil); ou não sobe ninguém, tal como acontece com as demais competições não profissionais.
Para tal, bastava celebrar um aditamento ao contrato celebrado com a LPFP que, face ao contexto atual e com boa vontade, não seria difícil.
Gostava de escrever sobre outros temas que estiveram na ordem do dia, mas o objetivo é entreter-vos e não fazer com que fechem a página a meio do artigo.
Portanto, deixo só nota de outros pontos que queria tratar, mas que deixo para uma próxima.
Até lá, pode ser que existam desenvolvimentos, que isto anda à velocidade da luz!
São principalmente dois, os temas que também merecem reflexão: os apoios concedidos pela FPF e pela LPFP aos clubes da II Liga e os ordenados reduzidos dos jogadores pelo acesso ao regime de lay off; e a nova III Liga!
Depois de todo este maldizer, não podia deixar passar uma boa notícia: o futebol feminino não foi esquecido, e a FPF decidiu alargar a Liga BPI a mais 8 clubes, passando de 12 a 20!
Mulheres com garra sobem com esforço… não na secretaria!!